Ayahuasca: visão geral
| Em out29,2015Conhecida como Santo Daime, Oasca, Xamãe ou Vegetal, a Ayahuasca, nome quechua de origem inca, refere-se a uma bebida sacramental produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: um cipó Banisteriopsis Caapi (Jagube ou Mariri) e folhas de um arbusto Psychotria Viridis (Rainha ou Chacrona) ou Psychotria Alba e em algumas tribos indígenas, também é acrescentado outras plantas como Tabaco, Daturas e outros.
É também conhecida por Yagé, Caapi, Nixi Honi Xuma, Nixi Pae, Hoasca, Kahi, Natema, Pindé, Dápa, Mihi, e significa “Liana dos Mortos”.
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Utilizada por povos pré-colombianos, Incas, e muito utilizada, por pelo menos, setenta e duas tribos indígenas diferentes da Amazônia. É empregada extensamente no Peru, Equador, Venezuela, Colômbia, Bolívia e Brasil.
Por milênios é utilizada na Amazônia, e está expandindo-se rapidamente na América do Sul e outras partes do mundo com o crescimento de movimentos religiosos organizados, sendo os mais significativos: Santo Daime, A Barquinha, União do Vegetal, Irmandade Natureza Divina, Irmandade Bandeira Branca Comuníndios além de dissidências destas e grupos (núcleos ou igrejas) independentes que consagram como sacramento de seus rituais.
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A aparência da ayahuasca varia entre diversos tons de terra variando entre o bege claro e translúcido ao marrom (castanho) escuro. Os métodos de preparo variam conforme a tradição de cada local e da ocasião em que o consumo se dá. De qualquer maneira, o processo é longo e leva quase um dia para o preparo. As diversas beberagens geralmente contêm talos socados do cipó caapi (Banisteriopsis caapi) mais as folhas da chacrona ou rainha (Psychotria viridis).
Outras plantas podem ser acrescentradas conforme a tradição do feitor da ayahuasca. As religiões ayahuasqueiras do Brasil usam somente Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis nos preparos.
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Segundo algumas correntes de defensores do seu uso religioso e ritualístico, a ayahuasca não é um alucinógeno. Seus defensores preferem utilizar o termo enteógeno (gr. en = dentro/interno, Theo = Deus/Divindade, genos = gerador), ou ‘gerador da Divindade interna’ uma vez que seu uso se dá em contextos litúrgicos específicos. Para seus críticos, contudo, a opção sociocultural do usuário ou a tolerância religiosa de alguns países ao DMT não altera a classificação, uma vez que o objetivo continua sendo o de induzir visões pessoais e estados alterados através da ingestão de uma substância.
A propriedade psicoativa da Ayahuasca se deve à presença, nas folhas da chacrona, de uma substância enteógena denominada N,N-dimetiltriptami na (DMT), produzido naturalmente (em doses menores) no organismo humano. O DMT é metabolizado pelo organismo por meio da enzima monoamina oxidase (MAO), e não tem efeitos psicoativos quando administrado por via oral. No entanto, o caapi possui alcalóides capazes de inibir os efeitos da MAO: harmina e harmalina (antigamente conhecida como telepatina), principalmente. Desse modo, o DMT fica ativo administrado por via oral e tem sua ação intensificada e prolongada.
A ayahuasca provoca ‘expansão da consciência’ sem causar danos físicos, inclusive atribuindo à substância propriedades curativas, como reativar órgãos danificados. De fato, não há dependência física conhecida.
Segundo linhas tradicionais de uso, ingerindo essa bebida mágica, pode-se absorver o ‘Espírito da Planta.’. Os sentidos são expandidos, os processos mentais e as emoções tornam-se mais profundos. A jornada pode mover-se em muitas dimensões. O vôo da alma, a partida do espírito do corpo físico, uma sensação de flutuar.
A experiência pode em algum ponto revelar visões notáveis, insights, produzir catarses, produzindo experiências de renovação, de renascimento positivas. Visões arquetípicas, de animais, de espíritos elementais, de cenas de vidas passadas, de Divindades, etc. Abre-se o portal de outros reinos da existência.
Nem todos recebem visões na primeira vez que experimentam. O trabalho com Ayahuasca é um processo que exige exame, dedicação, disciplina, coragem, perseverança e tempo para um benefício mais completo. Às vezes são necessárias várias sessões para se conseguir esse presente.
Uma vez iniciado o processo da renovação e transformação, estas continuam. O grande passo no trabalho com a Ayahuasca é a assimilação dos ensinamentos espirituais e a prática na vida diária.
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À ayahuasca atribui-se a cura de males físicos, psicológicos, mentais e espirituais. Há estudos científicos preliminares sobre aplicações médicas e psicoterapêuticas.
No Peru os xamãs evocam guardiães, protetores espirituais. Evocam carcanas (escudos protetores) através de cânticos de poder (ícaros), do fumo de tabaco, a queima de incensos, e de Sálvia e algumas águas perfumadas (água de Florida, flores de Kananga) que atraem os espíritos.
A jornada com Ayahuasca leva à exploração tanto deste mundo ‘ordinário’, como de mundos paralelos, que estão além de nossa percepção corrente. Podem ocorrer sensações de liberação dos limites normais de espaço-tempo.
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Não há dados científicos que indiquem riscos em relação à saúde física. Pessoas com transtorno bipolar (antiga psicose-maníaco- depressiva) não poderão participar da cerimônia porque os alcaloides inibidores de mono-amono oxidase presentes na bebida, como a harmina e harmalina, têm efeito análogo a alguns antidepressivos, como a moclobemida (Aurorix). E antidepressivos, sejam inibidores de monoamino oxidase, inibidores seletivos de recaptação de serotonina ou ainda de outras classes são associados a maior risco epsódios de mania em casos de transtorno bipolar. Há significativo risco de surtos psicóticos em indivíduos com pré-disposição genética. Pode ainda ocorrer: persecutoriedade, fuga da realidade e alienação, além de dependência psíquica de moderada a grave, portanto a Ayahuasca não é para todos. Para o homem branco, um acompanhamento terapêutico antes e após o uso ajuda no processo de cura.
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Fonte: http://medicinasdafloresta.blogspot.com.br